quinta-feira, 27 de maio de 2010

24 de setembro de 1950: o assassinato dos militantes comunistas


(...)Rosales e Kulmann,
Irmãos Aristides,
E tu Abdias,
Herói camponês
- de vida singela,
de sonho tão alto
esperem
confiantes
que outrora desponte no céu de amanhã (...)
(Lila Ripoll)

“ Em 1950, quando aconteceu a chacina eu não estava mais no Armour. Já tinha sido botado para a rua, por causa da greve que fizemos. Havian sindicalistas, casi todos, mas era el partido que estava determinando os acontecimentos. Era época de eleição, se supo que la policía ia tomar represálias, e se consultó a Porto Alegre e yo era uno, solo yo, que estava com Lúcio quando recibió ordenes de que podian hacer pichamento legalmente, que estava todo determinado de que no ia passar nada. Entonces aí se resolvió hacer, se convocó a la gente toda e se fez, se começó a pichar, quando vê, somos surpreendidos pela polícia. E chegou atirando, insultando e atirando e matando. E matou quatro! Havia 15 o 17 personas quando mucho, no havia más...Unos dirigian el trabajo e otros executavan ele trabajo. Estavam completamente desprevenidos, a arma deles era o pincel e a cal. Houve um que estava pichando, era parente do Perseverando, tinha uma fustinha, sabe o que é fusta? Um relhinho, e brigou de fusta. Tinha outro, que morreu, o finado Aristides Corrêia, que tinha um aparato que vinha nos carburadores dos auto antiguo, como que uma güela, assim, flexíble, e deu três ou quatro mangasso num deles com aquilo, e caiu morto, assassinado. Era mais ou menos las diez de las noche, era temprano todavia[...] o Ari Kullmann era o dono da Cueva. E recebia a polícia, a polícia se dava com ele, os que mataram ele não saíam de lá, jantando de noite e comendo sempre. Tinha um uruguaio, me parece que si, que era do centro do Uruguai, mas que fazia muitos anos que morava em Livramento, trabalhava no Frigorífico Armour, se chamava Aladin Rosales, e esse era um dos que podia ser castilhano. Esse foi um dos que morreu também. (...)
Era o Exército castilhano que vinha para a linha, Veio para a linha, ocupou a linha, o próprio Exército salvou um comunista, o Santos, me quiero acordar del nombre del, salvou porque caiu baleado das duas pernas e veio um metralhar ele com fuzil, foi quando eu saí dali, eu já não tinha mais bala e chegou o caminhão da polícia com mosquetão, o Exército. Iam fuzilar ele, e o milico castelhano disse que não, que não permitia, que ele tava no Uruguai- portanto o responsável por ele eram eles. E levaram ele, hospitalizaram ele e tudo, mas ele foi preso e o que salvou ele, era um tocaio dele por coincidência (risos) [...] O Lúcio foi curado no Polla, na Sarandi lá no fundo, num doutor que era comunista, Dr. Polaco Polla, chamavam ele, era russo, mas era médico castelhano, curou ele e imediatamente que curou ele, deu salida para ele pelos fundos, pelos muros da casa dele e comunicou a polícia que tinha curado um ferido, porque ele tem obrigação de anunciar né? Mas só depois que curou bem, ele largou. Ah, o Lúcio ficou em Rivera, e depois quem saía com ele era eu, só eu saía com ele. Ele ia com um prato de comida e um pano agarrado assim, disfarçado de mendigo, e era tempo de eleição no Uruguai também, e ele gritava - o partido Batllista era o de maior prestígio- e ele gritava: "Viva Batlle" em castilhano (risos), não muito bom castelhano, mas, e eu atrás dele. (risos).
/
Depoimento de Hugo Nekesaurt, militante comunista (na foto, à esquerda de Perseverando Santana) sobrevivente da chacina dos quatro militantes comunistas, em frente ao Parque Internacional, em 24 de setembro de 1950. A partir deste post, iremos publicar uma série de depoimentos sobre o crime. A poetisa quaraiense Lila Ripoll, militante comunista, dona de raro talento literário, imortalizou a luta em seus versos (acima, fragmento de Elegia). Publicado originalmente em Memórias Boêmias - Histórias de uma cidade de fronteira (Edunisc, 2008).

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